Olá! Este capítulo fala sobre intuição. O próprio título já diz muito:"Farejando os fatos: O resgate da intuição como iniciação"
Esse capítulo fala sobre o conto Vasalisa, para ler o conto clique aqui
O final dos contos de fadas, segundo a autora, terminam de forma abrupta para trazerem os ouvintes de volta a realidade.
"Vasalisa é uma história da transmissão da bênção do poder da intuição das mulheres de mãe para filha, de uma geração para a outra. Esse enorme poder, o da intuição, tem a rapidez de um raio e é composto de visão interior, audição interior, percepção interior e conhecimento interior."
"A iniciação é representada pelo cumprimento de certas tarefas. Nesse conto, há nove tarefas a serem cumpridas pela psique."
1ª tarefa: Permitir a morte da mãe-boa-demais
A autora fala da morte da mãe de Vasalisa.
As etapas psíquicas desse estágio são:
- aceitar o fato de que a mãe psíquica protetora, sempre vigilante, não é adequada para ser um guia para a futura vida instintiva da pessoa (a mãe-boa-demais morre).
- Assumir a realidade de estar só, de desenvolver a própria conscientização quanto ao perigo, às intrigas, à política.
- Tornar-se alerta sozinha, para seu próprio proveito;
- deixar morrer o que deve morrer.
O conto fala então dessa primeira etapa da iniciação, que seria perder, sair dos cuidados da "mãe boa demais" e ficar agora sob os cuidados da mãe intuição. No entanto, pode ocorrer interrupção no processo iniciático da mulher por vários motivos, um exemplo que a autora cita é quando houve um excesso de problemas psicológicos no início da vida - "quando não houve a presença uniforme da mãe "suficientemente boa" nos primeiros anos de vida." Ou então quando a mãe superprotege.
2ª tarefa: Denunciar a natureza sombria
A madrasta e as filhas tornam a vida de Vasalisa uma desgraça.
As tarefas desse período são:
As tarefas desse período são:
- aprender ainda com maior conscientização a largar a mãe excessivamente positiva.
- Descobrir que ser boazinha, que ser gentil e simpática não fará a vida florir. (Vasalisa torna-se escrava, mas isso de nada adianta.) , isso me lembrou o filme Dogville com Nicole Kidman, que ela cede a todos de uma pequena cidade (Dogville) para ser aceita por eles e no final não é aceita (tem uma parte muito ruim, mas não quero fazer spoiler)
- Vivenciar diretamente a própria natureza sombria, especialmente os aspectos exploradores, ciumentos e rejeitadores do self (a madrasta e suas filhas).
- Incorporar esses aspectos.
- Criar o melhor relacionamento possível com as piores partes de si mesma.
- Deixar acumular a tensão entre quem se aprendeu a ser e quem se é realmente.
- Trabalhar, afinal, no sentido de deixar morrer o velho self para que nasça o novo self intuitivo.
Nesse momento estou me perguntando como podemos fazer isso...
Continuando na leitura, algumas partes que destaquei:
"Neste estágio da iniciação, a mulher vê-se acossada por exigências banais da sua psique que a exortam a atender qualquer desejo de qualquer um."
A família da madrasta é como um "coro de megeras" que fica dizendo a todo momento que Vasalisa não é capaz.
3ª tarefa: Navegar nas trevas
Essa é a parte que Vasalisa anda nas trevas vai até a casa de Baba Yaga. Ela recebe as orientações da boneca. Nesse estágio, são esses as tarefas que a autora evidencia:
- Consentir em se aventurar a penetrar no local da iniciação profunda (entrada na floresta) e começar a experimentar o sentimento numinoso novo e aparentemente perigoso de estar imersa no poder intuitivo.
- Aprender a desenvolver a sensibilidade ao inconsciente misterioso no que se relaciona ao direcionamento e confiar exclusivamente nos próprios sentidos interiores.
- Aprender o caminho de volta para a casa da Mãe Selvagem (obedecendo às instruções da boneca.
- Aprender a nutrir a intuição (alimentar a boneca).
- Deixar que a mocinha frágil e ingênua morra ainda mais.
- Transferir o poder para a boneca, ou seja, para a intuição.
A autora vai nos falando do relacionamento entre a mulher e a intuição, que devemos nutrir a intuição e a forma de alimentá-la é ouvindo-a. Devemos prestar atenção à voz interior.
Algumas perguntas feitas pela autora:
Algumas perguntas feitas pela autora:
- “Devo ir para esse lado ou para o outro?
- Devo ficar ou partir?
- Devo resistir ou ser flexível?
- Devo fugir disso ou correr na sua direção?
- Essa pessoa, esse acontecimento, essa empreitada, é verdadeira ou falsa?”
4ª tarefa: Encarar a megera selvagem
É nesse ponto aqui que a Vasalisa encontra-se com a Baba Yaga (megera) pessoalmente, nesse momento, as tarefas a serem realizadas são:
É nesse ponto aqui que a Vasalisa encontra-se com a Baba Yaga (megera) pessoalmente, nesse momento, as tarefas a serem realizadas são:
- Ser capaz de suportar o rosto apavorante da Deusa Selvagem sem hesitar (topar com a Baba Yaga).
- Familiarizar-se com o mistério, a estranheza, a “alteridade” do selvagem (residir na casa de Baba Yaga por algum tempo).
- Adotar nas nossas vidas alguns dos seus valores, tornando-nos, portanto, também um pouco estranhas (comer seus alimentos).
- Aprender a encarar um poder enorme nos outros e subseqüentemente nosso próprio poder.
- Permitir que a criança frágil e boazinha em excesso vá definhando ainda mais.
A autora fala que o excesso de normalidade vai nos contaminando, tornando nossa nosso cotidiano sem vida e isso estimula a negligência com a intuição. que produz a falta de luz na psique.
Algumas frases:
"A atitude de respeito diante de um poder extremo é uma lição fundamental."
" A mulher precisa ser capaz de se manter diante do poder, porque em última análise alguma parte desse poder passará às suas mãos."
A Vasalisa se apresenta a Baba Yaga com honestidade, "exatamente como ela é".
"Muitas mulheres estão se recuperando dos seus complexos de "ser boazinhas", nos quais, independente de como se sentissem, independente do que as acossasse, elas reagiam de uma forma tão doce a ponto de ser praticamente humilhante."
"O inconsciente, ao seu modo brilhante, oferece a quem sonha uma idéia sobre um novo estilo de vida que não se restringe ao sorriso frontal e fácil da mulher "boazinha demais"."
A autora diz que dá medo quando a mulher usa os poderes selvagens.
"Ser forte não significa desenvolver os músculos e exercitá-los. Significa, sim, encontrar nossa própria numinosidade sem fugir, convivendo ativamente com a natureza selvagem ao nosso próprio modo. Significa ser capaz de aprender, e ser capaz de agüentar o que sabemos. Significa manter-se firme e viver."
5ª tarefa - Servir o não racional:
Vasalisa pede fogo, mas a Baba Yaga só vai dar o fogo se a menina cumprir algumas serviços domésticos em troca.
As tarefas psíquicas desse período do aprendizado são:
- ficar com a Deusa Megera;
- aclimatar-se às imensas forças selvagens da psique feminina;
- Chegar a reconhecer o poder dela (o seu poder) e os poderes das purificações interiores;
- limpar, escolher, alimentar, criar energia e idéias (lavar as roupas da Yaga, cozinhar para ela, limpar sua casa e separar os elementos).
"Lavar alguma coisa é um ritual de purificação atemporal. Ele não representa apenas a purificação."
Primeiro é a lavagem de roupas, a roupas é como a persona. Ela diz que as roupas são como nós, se desgastam com o tempo. E lavar é como lavar as fibras do ser.
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1ª tarefa: Lavar roupas |
"A tarefa seguinte é a de varrer o casebre e o quintal. Nos contos de fadas do leste europeu, as vassouras muitas vezes são feitas de gravetos de árvores e arbustos, e ocasionalmente das raízes de plantas rijas. O trabalho de Vasalisa consiste em passar esse objeto feito de matérias vegetais sobre o piso da casa e do quintal para manter o local limpo de resíduos. A mulher sábia mantém seu ambiente psíquico organizado. Ela consegue isso mantendo a cabeça limpa, mantendo um local limpo para seu trabalho e se dedicando a completar suas idéias e projetos."
"Varrer o ambiente significa não só começar a valorizar a vida não-superficial, mas também cuidar da sua organização."
"A varredura cíclica evitará que isso ocorra. Quando a mulher dispõe de espaço livre, a natureza selvagem viceja melhor."
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2ª tarefa: varrer a casa |
Cozinhar para Baba Yaga: "é a paixão que provoca o cozimento, e as idéias significativas da mulher são o alimento que é preparado. Para cozinhar para a Yaga, daremos um jeito para que nossa vida criativa tenha um fogo constante a aquecê-la."
"Seria melhor para a maioria de nós se nos tornássemos mais competentes em vigiar o fogo que está por baixo do nosso trabalho, se observássemos com mais cuidado o processo de cozimento para a nutrição do Self selvagem. Infelizmente, muitas vezes voltamos as costas à panela, ao fogão. Esquecemo-nos de vigiar, esquecemo-nos de acrescentar lenha, esquecemo-nos de mexer."
"Portanto, é o cozimento de novas coisas, novos rumos, da dedicação à nossa arte e ao nosso trabalho que alimenta a alma selvagem permanentemente. É isso mesmo o que nutre a Velha Mãe Selvagem e lhe dá sustento na nossa psique."
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3ª tarefa: cozinhar para Baba Yaga |
"Vasalisa, através da boneca da intuição, está aprendendo a escolher, a compreender, a manter em
ordem, a limpar e a arrumar o ambiente da psique."
ordem, a limpar e a arrumar o ambiente da psique."
- limpar nosso pensamento, renovando nossos valores com regularidade;
- eliminar da nossa psique as insignificâncias, varrê-las,
- purificar nossos estados de pensamento e sentimento com regularidade.
- Acender a fogueira criativa e cozinhar idéias num ritmo sistemático
- cozinhar muito para alimentar o relacionamento entre nós mesmos e a natureza selvagem.
6ª tarefa: Separar isso daquilo
Nessa parte, Baba Yaga exige de Vasalisa que ela cumpra as tarefas de separar as coisas.
"As tarefas psíquicas da mulher são as seguintes:
- aprender a discriminar meticulosamente, a separar as coisas umas das outras com o melhor discernimento,
- aprender a fazer distinções sutis (ao escolher o milho mofado do milho são e ao selecionar as sementes de papoula de um monte de estrume).
- Observar o poder do inconsciente e como ele funciona mesmo quando, o ego não está familiarizado (os pares de mãos que aparecem no ar).
- Aprender mais sobre a vida (o milho) e a morte (as sementes de papoula).
"A separação relatada nessa história é do tipo que surge quando nos deparamos com um dilema ou com uma pergunta, mas sem que nos ocorram muitas idéias que nos ajudem a resolver a questão. Se a deixamos em paz, no entanto, e voltamos mais tarde a ela, pode ser que uma boa solução esteja à nossa espera ali onde antes não havia nada. Ou “vá dormir, veja com que vai sonhar”, talvez a velha de dois milhões de anos chegue das trevas para visitá-la."
Agora vou falar de uma das partes que a autora diz ser uma das mais bonitas da história: é quando a Baba Yaga pede para Vasalisa separar o milho bom do milho mofado e as sementes de papoula do estrume, a autora diz que é como se a velha estivesse dizendo ou estimulando a menina a aprender a diferença entre o que faz bem e o que não faz. Entre o que pode causar alegria ou desperdiçar a vida, a diferenciar os medicamentos...
Esses medicamentos são os remédios para a psique.
7ª tarefa - Perguntar sobre os mistérios
Nesse momento, a menina consegue realizar todas as tarefas, aí ela pergunta a Baba Yaga sobre os mistérios: o que significa o cavalo branco, vermelho e o branco.
"As perguntas deste estágio são as seguintes:
- Perguntar e tentar aprender mais a respeito da natureza da vida-morte-vida e de seu funcionamento (Vasalisa pergunta sobre os cavaleiros).
- Aprender a verdade acerca da capacidade de compreender todos os elementos da natureza selvagem ("saber demais pode envelhecer a pessoa antes do tempo")."
8ª tarefa: De pé nas quatro patas
Nessa parte da história, Baba Yaga sente repulsa pelo fato de Vasalisa ter recebido a benção da mãe e manda a menina embora com o fogo saindo de uma caveira.
"As tarefas desta parte da história são as seguintes:
- assumir um poder imenso de ver e afetar os outros (o recebimento da caveira).
- Ver as situações da própria vida com essa nova luz (descobrir o caminho de volta à família da madrasta).
Vasalisa volta para casa, no meio do caminho sente medo e pensa em jogar fora a caveira com o fogo... Mas a caveira a tranquiliza. Quando chega em casa a caveira vê a madrasta e as irmãs de Vasalisa e as queima por dentro, de manhã, antes do amanhecer, elas três viraram cinzas...
"São as seguintes as tarefas desse estágio:
- usar a própria visão aguçada (os olhos incandescentes) para reconhecer a sombra negativa da nossa própria psique e/ou os aspectos negativos das pessoas e acontecimentos do mundo exterior bem como para reagir a eles.
- Reformular as sombras negativas da própria psique com o fogo-da-megera (a perversa família da madrasta, que anteriormente torturava Vasalisa, é reduzida a cinzas).
"Por um momento, Vasalisa sente medo do poder que carrega e pensa em jogar fora a caveira luminosa. Com esse poder formidável às suas ordens, não é de surpreender que ocorra ao seu ego que talvez fosse melhor, mais fácil, mais seguro, livrar-se dessa luz ardente, tendo em vista seu valor e o valor que Vasalisa adquiriu com ela. No entanto, uma voz sobrenatural de dentro da caveira recomenda que ela fique calma e siga em frente. E isso ela consegue fazer."
"Não obstante, há horas em que suas informações são dolorosas e quase insuportáveis; pois a caveira aponta para o lugar onde se trama a traição, onde a coragem falta àqueles que dizem o contrário. Ela denuncia a inveja oculta como gordura fria por trás de um sorriso de carinho. Ela indica os olhares que são meras máscaras para a aversão. No que diz respeito a nós mesmas, sua luz brilha com a mesma intensidade: ela ilumina nossos tesouros bem como nossas fraquezas."
"Não podemos manter a conscientização adquirida no encontro com a Deusa Megera e ao transportar a luz incandescente, se convivermos com seres cruéis interna ou externamente. Se estivermos cercadas de pessoas que reviram os olhos e olham para o teto demonstrando repulsa quando estamos por perto, quando falamos, agimos e reagimos, isso é um sinal de que estamos com pessoas que abafam as paixões — as nossas e provavelmente também as delas mesmas. Não são pessoas que liguem para nós, para nosso trabalho, para nossa vida."
A autora faz um exemplo de bufê com várias comidas em cima, a gente pode olhar para essas comidas e pensar: vou comer um pedaço disso, mais um pouco disso e daquilo. Mas será que a gente queria comer aquilo mesmo ou só sentimos vontade por estava a nossa vista? O melhor será a gente fazer a pergunta: "Estou com fome de quê?", e ir atrás disso que queremos.
E, finalizando, "deixar morrer é o tema do final da história. Vasalisa aprendeu sua lição. Ela cai numa crise histérica quando a caveira faz arder as mulheres perversas? Não. O que deve morrer morre."
Para ler o conto Vasalisa clique aqui
Outras partes do livro Mulheres que correm com os lobos, clique nos links:
Introdução
Capítulo 1 - La Loba
Capítulo 2 - Barba Azul
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